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Nome de Ciro pode ser considerado pelo PT mais para a frente, diz Pimentel

Nome de Ciro pode ser considerado pelo PT mais para a frente, diz Pimentel
   Pré-candidato à reeleição, governador de MG culpa Temer por crise no estado, mas, de olho em apoio, diz que MDB local é diferente

7:52|FOLHAPRESS |2018JUL15| 

Cercado por uma profunda crise fiscal e por denúncias de corrupção, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), aposta na vitória de um presidenciável de esquerda para melhorar a situação do estado, que pretende administrar por mais quatro anos.

Seu principal adversário será o senador Antonio Anastasia (PSDB), ex-governador que somado ao senador Aécio Neves (PSDB) comandou Minas de 2003 a 2014. Também enrolado com a Justiça, Pimentel evitou criticar o isolamento de Aécio.
Ele acusa, porém, o governo Michel Temer (MDB) de montar um cerco a Minas, mas não descarta o apoio emedebista no estado, mesmo com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em sua chapa para o Senado.

A candidatura de Dilma ocupou um posto almejado pelo presidente da Assembleia, deputado Adalclever Lopes (MDB), que autorizou um pedido de impeachment contra o petista em retaliação e se lançou ao governo. No comando do MDB dividido está o vice de Pimentel, Antônio Andrade, rompido com o governador há mais tempo.

Se o registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não for aceito, o governador mineiro avalia que seu partido deve considerar apoiar Ciro Gomes (PDT).

Ao receber a Folha no Palácio da Liberdade, Pimentel serviu café da manhã e comentou informalmente sobre sua indignação com o que considera a mais grave crise institucional do país, que teve como episódio emblemático, na sua opinião, a não soltura de Lula no domingo (8).

O sr. tem sido alvo por atrasos de repasses às prefeituras e de salários. Como resolver?

Estamos dizendo a verdade para as pessoas e praticando o que é possível numa situação de crise tão devastadora. Não temos tido apoio do governo federal para nada. O estado está numa situação de completo desequilíbrio orçamentário. O grande problema de Minas e da maioria dos estados e da União é a Previdência pública. Sem ela, teríamos superávit de R$ 7 bilhões no ano passado. Com ela, há déficit de R$ 9 bilhões. Tem que tirar dinheiro de imposto para pagar a folha de aposentados, o que não é justo.

Caberia uma reforma da Previdência?

É absolutamente necessária. E depende do governo federal. Mas tem que ser discutido, não pode ser feito goela abaixo no Congresso. O modelo tem que ser alterado, sem penalizar o aposentado. O modelo adotado no mundo é a capitalização da Previdência.

E aqui não foi feito. Cabe enorme culpa aos meus antecessores, especialmente os do PSDB, que governaram 12 anos, sabiam disso e não deram um único passo. Mesmo tendo recursos, porque fizeram aquele prédio da Cidade Administrativa. Aquilo poderia ter sido capitalizado num fundo para começar a resolver o problema que caiu no nosso colo.

Agora, falar que vai cortar uma despesa aqui, outra ali e equilibra as contas. O candidato que disser isso não está falando a verdade.

Quais medidas o sr. tomou?

Estamos tomando. Só não tomamos mais porque a gente não consegue avançar com o governo, esse desastre chamado Temer. Fomos vítimas de um cerco brutal do governo federal. Estamos tendo que enfrentar esse déficit com os recursos disponíveis. E aí sou obrigado a parcelar os salários.

O que Temer propôs como reforma era cortar direitos e isso nós nos recusamos. Como ele propôs ao Rio: ajuste fiscal selvagem, vender empresas do estado e sacrificar o serviço público.

​Os fundos que o sr. fez aqui para captar recursos deram resultado?

Não ainda, porque estamos travados por esse cerco. Tivemos obstrução de projetos na Assembleia. Temos as dificuldades geradas pelo mesmo campo político que dá sustentação ao governo Temer lá em Brasília e que aqui nos faz oposição.

O sr. tenta empréstimos via estatais e é travado na Justiça ou na Assembleia. Vai insistir?

Vamos, porque é o caminho correto. A não ser que a gente queira aprofundar o sacrifício com o servidor público. Temos que insistir na estratégia de obter recursos extraordinários, que são legais. O que não resolve, mas nos faz ir tocando a vida. Foi o que os tucanos fizeram nos 12 anos que governaram.

Chegou a conversar com o governo federal sobre isso?

Sim, mas ali nada avança. A preocupação do governo Temer, com todo o respeito pessoal que tenho a ele, é sobreviver e chegar ao fim do mandato. E botar à venda todos os ativos que puder do Brasil a preço de banana.

O sr. diz que reduzir gastos não é suficiente, mas já recebeu dois alertas do Tribunal de Contas de que ultrapassou limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não cabe um corte de despesas?

Como vai reduzir a despesa com pessoal? Eu queria que o Tribunal de Contas me dissesse. Não podemos mandar ninguém embora e nem reduzir salário. Alguém demagogicamente pode dizer para extinguir os cargos de confiança, mas dois terços são ocupados por concursados e o gasto é de R$ 17 milhões ao mês. A folha de pagamento é de R$ 2,4 bilhões. Quando eu vejo pré-candidatos fazendo esse tipo de afirmação, me dá pena. Se fosse a solução, teríamos adotado há muito tempo.

Mais quatro anos de Pimentel são mais quatro anos de salário atrasado?

Não, porque vamos conseguir receitas extraordinárias. Dia 31 de dezembro acaba o pesadelo Temer. Tenho certeza que o resultado da eleição tenderá para para o campo democrático-popular, que é onde eu me situo. Não posso prometer que em janeiro vai regularizar, mas até o final do ano destravamos a pauta na Assembleia e votamos os projetos que vão me permitir recursos extraordinários.

A três meses da eleição, o sr. não definiu alianças. A que se deve esse isolamento?

Eu tenho o maior partido do Brasil hoje, que é o PT. Temos o PC do B, estamos em negociação avançada com o PR, o PV. Eu não me surpreenderia se o MDB fizesse aliança conosco apesar desses últimos, vamos dizer, desentendimentos.

O sr. vê essa possibilidade?

Vejo claramente e me daria muito orgulho, porque o MDB de Minas não é do Temer. Pode ter divergências e alguns líderes acham que seria melhor sair em chapa separada, mas são do nosso campo.

No comando do MDB, o seu vice-governador, Antônio Andrade, está em campo oposto ao seu.

Todo rebanho tem uma ovelha diferente.

Caberia o deputado Adalclever Lopes (MDB), presidente da Assembleia, na chapa do sr. para senador?

Claro, mas depende deles e não de mim. Vamos aguardar, ainda falta muito.

Já definiu um candidato a vice?

Os partidos vão fazer essa discussão. Tenho um carinho extraordinário pela [deputada federal] Jô Moraes (PC do B), mas eu sei que ela quer o Senado. O MDB tem grandes nomes, o deputado Adalclever é um nome qualificado para qualquer chapa majoritária. O PR tem o filho do Zé Alencar, o Josué, nosso amigo. O PV tem grandes nomes, mas não está na hora dessa discussão.

Houve boatos de que Dilma ou Josué disputariam o governo em seu lugar.

É medo que eles têm que eu seja candidato. Estou liderando nas pesquisas ou empatado com o ex-governador Anastasia (PSDB). Tenho uma notícia ruim para dar a eles: eu sou o candidato. E serei muito competitivo.

O sr. acha que chega enfraquecido para a reeleição?

De jeito nenhum. Temos um governo honesto, que está fazendo o possível nessa situação e mantendo o estado funcionando. O problema é que a crise é mais visível do que as coisas boas. Com a crise toda, eu ainda estou lá em cima nas pesquisas. O mineiro é burro? Não, ele reconhece que muita coisa mudou pra melhor.

Fragilizado está quem vai ter que explicar o que fez no governo nas vacas gordas e poderia ter deixado o estado numa situação muito melhor. Você já deve ter visto entrevista do meu antecessor [Anastasia], que é pré-candidato, dizendo que não pode prometer que vai corrigir o parcelamento de salários. Mas não vai? [Risos] Você vê que a situação não é fácil para ninguém.

Como avalia o pedido de impeachment contra o sr. aceito na Assembleia?

É um incidente da vida parlamentar. Um belo dia o presidente não foi à sessão e o vice fez a leitura.

Quer dizer que presidente Adalclever não sabia que o vice faria isso?

Não sei, não perguntei a ele.

O sr. não tratou disso com ele?

Não tivemos oportunidade. Depois a gente ficou um tempo sem falar.

Mas o sr. encontrou com ele no dia seguinte.

Não conversei disso. Aqui em Minas Gerais a gente não fala de assuntos polêmicos, a gente conversa de coisas mais amenas. [Risos] Passamos um tempo sem falar mais amiúde e acabou que o assunto caiu no esquecimento. Minha relação com ele hoje é institucional, não tem nenhum problema.

Teve algum acordo para o impeachment não avançar?

Não, acho que parou porque não tinha objeto. Se fosse levado a voto, seria derrotado.

Se continuar governador, a pauta da Assembleia vai continuar trancada pela oposição?

A oposição fica mais valente na época das eleições, depois costuma aquietar um pouco. Até porque todos os deputados têm senso de responsabilidade.

A vinda da ex-presidente Dilma atrapalhou sua aliança com o MDB?

Foi uma surpresa. Em um primeiro momento provocou um certo abalo nas conversas,  mas logo se acomodou. Ela está muito bem nas pesquisas. Vai nos ajudar, não atrapalhar. Ela vai deixar muito claro a nossa opção de resistência. Essa é uma eleição de lado. Não vai ter essa história de terceira via. É um lado dos que estão com presidente Lula, preocupados em recuperar o modelo distributivista, e outro lado dos golpistas, contra o direito dos trabalhadores.

O senador Aécio Neves (PSDB) será um adversário?

Não sei responder se ele será candidato.

Mesmo sem disputar, ele interfere na eleição.

É um personagem público de Minas, tem responsabilidade muito grande nesse quadro trágico do impeachment, então possivelmente será lembrado na campanha. Mas eu não faço esse tipo de campanha de agressão.

Aécio está fragilizado em Minas, como vê isso?

Cada um responde pelo seu problema. Não vamos agravar o que já é grave. Deixa as dificuldades deles lá com eles. [Risos]

O sr. concorda com a estratégia de manter a candidatura de Lula a todo custo?

É um direito do presidente. Eu não sei se ele está condenado, não transitou em julgado.

O Supremo já interpretou a Constituição para adiantar a prisão.

O Supremo não falou isso. Ele disse, e acho até que não deveria ter dito, que pode começar a cumprir pena a partir da segunda instância. E como a presidente Cármen Lúcia ainda não pautou a discussão de mérito, isso não está definido. Acredito que o Supremo não fará —agora vou cometer uma ousadia— essa barbaridade. Lula está preso ilegalmente.

A Lei da Ficha Limpa não fala em trânsito em julgado, mas condenação em órgão colegiado.

Na sua opinião, a Ficha Limpa vale mais do que a Constituição?

É um questionamento jurídico.

Se há um questionamento, ele tem direito de registrar a candidatura. O Supremo tem que definir isso. Eles vão mudar a Constituição? Esse tipo de coisa me dá arrepios. Dedicamos a vida a construir um regime democrático e agora vão passar um trator no Estado de Direito.

O sr. é contra escolher um plano B?

Não está na hora disso. Se Lula for impedido, lá na frente, vamos ver o que fazer. O campo democrático-popular terá um candidato. Já tem a Manuela D’Ávila (PC do B), o Guilherme Boulos (PSOL), o Ciro Gomes (PDT). Pode ser que tenha mais um ou pode ser que um desses seja apoiado pelo presidente Lula. Essa eleição vai ter um candidato com apoio explícito de Lula e acho que será eleito.

Ciro diz que é difícil que o PT o apoie, mas o sr. diz que isso pode acontecer.

É meu amigo e um quadro político fundamental hoje. Se ele vai ter ou não o apoio do PT,  a discussão não chegou nesse momento ainda. Lá na frente, se isso tiver posto, tenho certeza que o nome dele pode ser considerado.

O sr. é acusado na Operação Acrônimo por corrupção e caixa dois, enquanto era ministro. Hoje são cinco denúncias, uma aceita. Como responde?

Pode até ser que sejam mais. Aquilo é uma armação do começo ao fim contra mim. Começou no dia seguinte da eleição com uma operação de apreensão de um avião sem mandado judicial. Tudo ilegal, cheio de irregularidades. Depois de três anos e meio de investigação acintosa, arbitrária e perversa não tem nada contra mim.

No caso da Odebrecht, que o sr. é réu, são várias delações e dados que comprovam encontros de entrega de dinheiro.

Isso não é prova. Comigo ninguém encontrou, tratou de dinheiro, entregou mala de dinheiro, obteve nenhuma vantagem. Algumas delações têm prova. Tem mala de dinheiro, tem vídeo. É o irmão, é o primo. Essas [delações] misteriosamente não vão para lugar nenhum. Não sei, as pessoas continuam por aí.

Em mais quatro anos de governo, correria o risco de ser afastado ou preso?

Não, porque eu sou inocente e vou provar isso. Tenho enorme tranquilidade. Temos depoimentos, inclusive de membros da Polícia Federal, dizendo claramente a armação que havia lá dentro para tentar atingir o então candidato do PT, que era eu.

Com o fim do foro, os processos terem descido para a primeira instância é bom ou ruim?

Não beneficia nem atrapalha. Me dá o mesmo direito que qualquer outro cidadão brasileiro tem. É a mesma coisa que perguntar para o Lula se para ele é bom ser julgado pelo [juiz Sergio] Moro. Não é bom nem ruim. É o que é. Não tem benefício, para com isso. O Moro está trucidando o presidente Lula e ele é juiz de primeira instância.

Por que manter em sigilo dados de voos fretados, que já foram divulgados em 2015 e agora não mais?

É uma decisão do gabinete militar. Tem a ver com segurança e acho que tem sentido. Ou você acha que a vida pública hoje é um lugar seguro?

É um dado de interesse público.

Estou falando de segurança. Você acha que é segura a vida de um político hoje?

Estou falando da publicidade de voos que já aconteceram.

As pessoas encarregadas acham que isso prejudica a segurança, portanto não divulgam e tenho que respeitar.

O sr. não tem o poder de autorizar essa divulgação?

Não seria prudente ir contra as orientações do setor meu de segurança. Mas você não respondeu minha pergunta. Não é seguro hoje ser governante. Aliás, ser político não é seguro.

​Teve algum episódio que o sr. passou para dizer isso?

Não sei, eu não fico olhando em volta. Mas a turma fica vigiando.

About Beto Fortunato
Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

Beto Fortunato

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