Gastronomia & Saúde

Adoção de cores em rótulos para indicar risco ganha força 

Adoção de cores em rótulos para indicar risco ganha força
      Indústria defende formato de semáforo enquanto defensores de alimentos saudáveis querem dar destaque para advertências

6:03 |IDNews/Estadão/Lígia Formenti| 2018SET27  |

BRASÍLIA – A proposta da indústria para um novo padrão de rótulos de alimentos voltou a ser considerada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A autarquia discute desde 2014 mudanças nas embalagens, com o objetivo de tornar mais clara a informação para os consumidores sobre teores de açúcar, sódio e gordura. A meta da agência é apresentar até o fim do ano um modelo para ser submetido à consulta pública. A indústria defende um formato de semáforo, em que cores indicam se o teor do nutriente é alto, baixo ou médio.

Embora tenha sido descartado da discussão pública feita até agora por ser considerada confuso pela equipe técnica da Anvisa, o modelo que adota cores voltou a ser citado. Nomeado por Michel Temer na semana passada, o novo presidente da agência, William Dib, afirmou ser favorável a advertências coloridas nas embalagens, independentemente do uso do formato de semáforo.

As declarações provocaram críticas de entidades ligadas a direito do consumidor e alimentação saudável, que defendem advertências simples, com frases que apenas indiquem alto teor de gordura, sódio ou açúcar. “É um claro retrocesso”, afirmou a diretora-geral da ACT Promoção da Saúde, Paula Johns.

O advogado do Instituto de Defesa do Consumidor, Igor Rodrigues Britto, também ficou surpreso com a retomada da discussão sobre o sistema de cores. “Estranhamos. Essa fala é contrária não apenas à análise técnica e científica de sua equipe, como também é distante do que se falou nas reuniões com as organizações da sociedade civil”, disse.

Dib afirma que o uso de cores é importante sobretudo para tornar os produtos mais atrativos. “Não queremos quebrar a indústria ou criar dificuldades. Queremos ter comparação”, disse. O presidente lembrou de uma reunião realizada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), há dois meses, quando se afirmou que o formato poderia trazer perdas econômicas para o setor, a exemplo do que teria ocorrido no Chile, que adotou um sistema de advertências. “A embalagem deixou de ser chamativa. Não é esse o espírito”, disse o novo presidente da Anvisa.

Para Dib, o fundamental é que população tenha mecanismos suficientes para identificar qual a composição do alimento e possa comparar produtos semelhantes para identificar qual apresenta maior ou menor teor de determinados nutrientes. Entre as propostas está a de tornar comparável as porções apresentadas na embalagem. Uma das queixas de técnicos da Anvisa é de que as porções estampadas atualmente na embalagem não refletem a quantidade habitualmente consumida e apresentam dificuldade para comparação entre alimentos.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, Wilson Melo, afirmou ter recebido com “bastante alegria” a notícia de se recolocar a discussão das cores no cenário regulatório. Ele reconheceu ainda não haver dados precisos sobre o impacto financeiro provocado no Chile depois da adoção das advertências em cores escuras. “Assim como não há dados sobre qual impacto que isso provocou para a redução da obesidade naquele país.” A Organização Pan-Americana de Saúde, contudo, já se manifestou favoravelmente ao sistema de advertências.

Opções

Dib afirmou ainda ser preciso avaliar a possibilidade de ter mais de um formato, de acordo com o tamanho da embalagem do produto. E citou refrigerantes. “Será que uma lata tem de apresentar um rótulo do mesmo padrão que uma embalagem maior? O que sei é que tem de haver diálogo.”

ONU lança relatório e pede ações contra obesidade infantil

Na Assembleia-Geral das Nações Unidas, foi apresentado ontem o relatório Tomando Ações sobre a Obesidade Infantil, de autoria da Federação Mundial da Obesidade. Ele menciona a advertência em preto nos rótulos, adotada pelo Chile, e o semáforo, implementado no Reino Unido. Mas não compara os modelos. O trabalho afirma que, entre 1976 e 2016, o número de crianças com sobrepeso subiu mais de dez vezes, passando de 12 milhões para 124 milhões. Se nada for feito, o Brasil chegará a 2025 com o quarto maior número de crianças obesas entre 184 países.

About Beto Fortunato
Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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