Araraquara

Condição de vida das mulheres de Araraquara

Condição de vida das mulheres de Araraquara
O Cedro foi a primeira organização da sociedade civil de Araraquara de defesa dos direitos das mulheres

06MAR2017| 13:58
Sara Passos

Nestes anos de luta pela garantia de direitos das Mulheres de Araraquara vi muitas mudanças acontecerem.
Saímos de uma situação de nenhum serviço ou política pública municipal destinada às mulheres para um conjunto importante de políticas reconhecidas por muitas cidades.
Foi a inexistência de políticas e a total falta de atenção do poder público e, é claro, a sensibilidade para perceber o sofrimento das mulheres que motivou, na década de 90, a criação do Cedro Mulher – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher.
O Cedro foi a primeira organização da sociedade civil de Araraquara de defesa dos direitos das mulheres. Publicizou que a situação de desigualdade das mulheres é fruto de uma sociedade machista, portanto não basta atuar nos efeitos desse fenômeno, mas nas causas.  Foi assim que um grupo de mulheres corajosas, em Araraquara, colocou em movimento uma pauta de lutas: saúde de qualidade, combate à violência, combate ao assédio sexual, participação política das mulheres, parto humanizado e a exigência de políticas públicas para enfrentar esses problemas.
Essa pauta foi acolhida e aprimorada por muita gente, não só do Cedro, mas inúmeras instituições que não citarei para não correr o risco de esquecer de alguém. Foram muitas mulheres e homens que participaram e participam desta luta.
Infelizmente, o que vemos ainda, em pleno século XXI é lamentável.
Nossa agenda trata de salários menores, baixa representação na política, assédio sexual, propaganda sexista, falta de creche, violência, padrão de beleza, estupro, violência, muita violência.
Preconceito e discriminação!
Bem resta-nos nos desculpar com as guerreiras do passado Simone de Beauvoir, Emma Goldman, entre tantas outras. Caras amigas, hoje vemos um jogo de imagens e discursos modernizantes veiculados por meio de velhas e novas tecnologias maçantes. Tais discursos disfarçam e confirmam velhas imagens e velhos comportamentos que reforçam a discriminação e o preconceito em relação às mulheres.
Passamos a reivindicar tudo e, ainda, buscamos o básico! E tudo isso se mistura numa bela fantasia da igualdade onde a esquerda e a direita dizem querer garantir. Nem direita, nem esquerda, basta ver a composição das direções partidárias, os resultados eleitorais. Vários partidos multados por não garantirem sequer o direito ao tempo de exposição das mulheres nos programas veiculados pela TV.
Ainda precisam aprender que não há democracia sem a participação das mulheres.
Muito bem, como sempre, devemos lutar, com nossas forças. Afinal sempre foi assim, por seu próprio esforço que os oprimidos conseguiram alcançar direitos. Uma lição para nós mulheres; é que devemos ser mais, muito mais unidas.
Em Araraquara construímos um Protocolo de Atendimento às Vítimas de violência doméstica. Foi um projeto construído a muitas mãos, todas as instituições que fazem parte da rede de atendimento participaram. Saúde, assistência, assessoria LGBT, gestores dos programas dos idosos, delegacia da mulher. Conseguimos fazer uma capacitação com servidores e com mulheres em parceria com um programa internacional. No entanto não avançamos o suficiente. Trata-se de trabalhar de maneira articulada, os vários serviços e portas de entrada da vítima de violência. Passar a bola um para o outro, sem que a vítima fique perambulando pela cidade sem saber quem procurar e, sobretudo, quem faz o quê.
Mas esses projetos só vão adiante se tiver vontade política, apoio e empenho do governo municipal.
Por falar nisso proponho uma pauta a ser enfrentada pela Morada do Sol. Por óbvio não é a única, mas um caminho para seguirmos.
Em Araraquara, no nosso âmbito de atuação, precisamos, urgentemente:
Garantir vagas nas creches em quantidade suficiente para que as mulheres tenham condições de trabalhar, com a garantia que seus filhos estejam seguros.
Garantir acesso à saúde para as mulheres. Pré-natal de qualidade, parto humanizado (colocar em prática o protocolo de atendimento às gestantes de Araraquara), cuidado com idosos e crianças que, em sua maioria, estão sob os cuidados da mulher.
Combater todas as formas de Violência. Colocar em prática o protocolo de atendimento às mulheres vítimas de violência se faz urgente. Divulgar a lei da Parada Segura. Garantir o cumprimento da Lei Maria da Penha.
Condições de Trabalho. Promover o trabalho feminino e seu direito a tratamento e salário iguais aos dos homens para as mesmas funções.

Em comemoração aos 200 anos de Araraquara poderíamos garantir o trabalho em torno de uma pauta à altura dos problemas das mulheres de Araraquara, com planejamento e empenho, como sinal de nosso amadurecimento.
Parabéns às mulheres de Araraquara, neste oito de março sintam-se abraçadas, sintam-se orgulhosas pelo que são e, não deixem ninguém dizer o contrário.

(*) Edna Martins é Socióloga

About Beto Fortunato
Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *