Educação & Cultura

Especialistas questionam critério mais rígido do MEC para nota do Saeb

Especialistas questionam critério mais rígido do MEC para nota do Saeb
      Desde 1995, os estudantes das escolas brasileiras fazem exames do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

9:39|Agência Brasil/Mariana Tokarnia/ID News |20180SET04| 

O Ministério da Educação (MEC) começou a adotar uma “nota de corte” para medir o “nível adequado” de aprendizado em português e matemática para o ensino fundamental e médio.

Desde 1995, os estudantes das escolas brasileiras fazem exames do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). De acordo com o desempenho, os estudantes eram distribuídos em até dez níveis – sem estipular a partir de qual deles o aprendizado era considerado suficiente.

Neste ano, pela primeira vez, o MEC estipulou o nível 7 como o mínimo adequado. Os parâmetros, no entanto, surpreenderam especialistas por serem mais rígidos que o de avaliações semelhantes aplicadas no país e no exterior. Na avaliação de pesquisadores entrevistados pela Agência Brasil, com a nova escala, a situação da educação brasileira parece pior do que a realidade.

“Experiências consideradas exemplares até 2015 se tornaram fracassos com a nova metodologia”, diz o ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Francisco Soares, que é integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE).

O Saeb é aplicado a estudantes do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do último ano do ensino médio que fazem provas de português e matemática.

De acordo com a nova classificação divulgada pelo MEC, até o nível 3, o aprendizado é considerado insuficiente e, até o 6, básico.

Segundo Soares, essa síntese facilita o uso dos dados para o planejamento pedagógico das escolas e das redes de ensino, assim como a comunicação com a sociedade. No entanto, os pontos de corte que definiram os níveis produziram uma mudança drástica no diagnóstico da realidade educacional brasileira.

“Na realidade, não ocorreu nenhum desastre educacional nos últimos dois anos, mas apenas a introdução de uma forma equivocada de sintetizar os dados da Prova Brasil [como também é chamado o Saeb]”, opinou.

Parâmetro oficial

Até este ano, o parâmetro mais adotado nas análises das notas do Saeb era o produzido pelo movimento Todos pela Educação. Seguindo padrões internacionais, a entidade estabeleceu o nível 4 como mínimo adequado para português. Para matemática, são considerados adequados desempenhos a partir do nível 5 no ensino fundamental e nível 6, no médio.

“A gente fez uma análise da matriz do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e do Saeb e estabeleceu qual nota de corte seria considerada adequada”, explica a presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

O Pisa é um exame da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que testa os conhecimentos de matemática, leitura e ciências de estudantes de 15 anos de idade de mais de 70 países e regiões econômicas. A avaliação é feita a cada três anos.

Para o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, a escala do MEC desconsidera as diferenças entre português e matemática, o que pode distorcer os resultados. “Chama a atenção na divulgação do Inep que quando trabalham com o nível 7 como adequado tanto para matemática quanto para português, isso fez com que o percentual de aprendizagem adequada em matemática fosse maior, o que não faz sentido porque o Pisa sinaliza que a gente tem muito mais dificuldade em matemática”, diz.

Pelos dados do último Pisa, aplicado em 2015, 49% dos brasileiros estão em níveis considerados adequados em leitura e 29,75% têm aprendizado adequado em matemática. Pela escala do MEC, ao final do ensino fundamental, período mais ou menos equivalente ao avaliado pelo Pisa, apenas 2,9% dos estudantes têm aprendizado considerado adequado em língua portuguesa e 4,5%, em matemática.

Mudanças

A divulgação do Saeb sofreu ainda outra crítica, a de mudança de critérios, de acordo com governadores de cinco estados do Nordeste – Piauí, Pernambuco, Ceará, Paraíba e Bahia. Segundo eles, foram excluídos do cálculo do Saeb das redes públicas estaduais os estudantes do Curso Técnico Integrado, o ensino médio integrado, também conhecido em algumas redes como escolas de educação profissional.

De acordo com os governadores, em alguns estados, essa modalidade responde por mais de 15% da matrícula de toda a rede. Eles teriam feito as avaliações, mas foram desconsiderados. Eles pedem regulamentação e divulgação prévia dos critérios adotados pela pasta.

Ministério da Educação

Em nota, o MEC diz que a classificação dos resultados em “insuficiente, básico e adequado” foi decidida por um grupo de especialistas, que “pela primeira vez fez uma readequação na escala considerando padrões de aprendizagem e o uso pedagógico dos dados quando de sua divulgação”.

Defendendo o nível de exigência adotado, o ministério diz que não é possível aceitar como adequado uma nota média em que boa parte dos alunos se enquadre “em níveis baixíssimos de aprendizagens”. Tomando como exemplo a matemática, o MEC diz que considerou inadequado que os alunos saiam do 5º ano sem pelo menos resolver problemas envolvendo o pleno domínio das quatro operações fundamentais, das características do sistema de numeração decimal, das noções centrais de frações e números decimais, “o que apenas acontece, nessa nova interpretação se os alunos estiverem no nível 6 de proficiência. Sem isso, as chances de reprovação no 6º ano são grandes”.

O ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Francisco Soares, citou como exemplo de mudança  a cidade de Sobral, no Ceará, que era considerada exemplo nacional e que, com os novos critérios, passaria a  ter apenas 13,4% dos alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa, em vez dos 79,8% registrados em 2015. Segundo o MEC, a cidade de Sobral, assim como outras experiências importantes de redes e escolas “continuam sendo consideradas ótimos exemplos nacionais de que uma boa gestão aliada ao investimento em educação faz a diferença para a vida escolar do aluno”.

Em relação à crítica feita pelos governadores, o MEC afirma que tanto a série histórica do Saeb, desde 1995, quanto a do Ideb, a partir de 2007, “jamais consideraram os resultados do ensino técnico. Portanto, incluir estes dados nos resultados do Saeb e do Ideb 2017 os tornaria incomparáveis com as edições anteriores, quebrando assim a série histórica”.

Edição: Lílian Beraldo

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Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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