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‘Physical’ faz rir com protagonista bulímica e politicamente incorreta

‘Physical’ faz rir com protagonista bulímica e politicamente incorreta

Os três primeiros episódios foram ao ar no último dia 18, e a partir de agora um novo estará disponível a cada sexta-feira


Sheila Rubin, a personagem principal de “Physical”, série do Apple TV+, não existiu na vida real. Para sorte dela. E nosso azar.

A história improvável e rocambolesca da problemática dona de casa dos anos 1980 que se encontra na vida quando começa a fazer aulas de aeróbica em um estúdio nos fundos de um shopping center seria muito mais interessante se baseada em fatos reais.

Nada contra a ficção, óbvio, mas neste caso específico, em que a personagem é tão inverossímil, seria um enorme e bizarro prazer saber que ela existiu de verdade.

Poderia despertar o mesmo tipo de reação -um mix de admiração com um certo receio- que Ma Anand Sheela, a irresistível e implacável ex-assistente do guru Osho de “Wild Wild Country”, de 2018, provocou quando a minissérie da Netflix virou uma febre mundial.

Não será o caso. Mas Sheila -até o nome é parecido-, vivida pela comediante em ascensão Rose Byrne, não deixa de ter seus estranhos atrativos.

Numa das primeiras cenas do seriado, ela está na frente do espelho, examinando seu rosto enquanto ouvimos seus pensamentos narrados em off. Ela não acha a menor graça em seu semblante, apesar de ser uma mulher muito bonita. Pelo contrário, o ódio que sente de si é o fio condutor da primeira parte da trama.

Mas Sheila não deixa escapar a ironia de notar uma espinha nascendo na mesma linha das rugas conhecidas popularmente como “bigode chinês”.

O tom de seus pensamentos não é nada ameno ou compreensivo. Algumas vezes dirigidos a ela mesma, outras a terceiros, são apresentados em frases do tipo “sua vaca mentirosa, estúpida, gorda, egoísta e gananciosa” -essa ela diz para si, por exemplo.

“Physical” é apresentada como uma comédia. Mas os elementos dramáticos remetem a questões sérias, como a total falta de autoestima da protagonista, além da bulimia e das atitudes imorais que ela toma aqui e ali pela trajetória.

Sheila detesta sua vida. É uma dona de casa que não trabalha, casada com um professor de universidade boçal que se acha o máximo e de quem ela levanta a bola o tempo todo, quase que por instinto de sobrevivência. Tem uma filhinha pequena com quem não demonstra nenhuma intimidade. E faz aulas de balé durante a tarde.

O único prazer que tem no dia a dia vem de um distúrbio alimentar, e é seguido de culpa e mais desprezo de si. Bulímica, faz retiradas secretas de dinheiro da conta conjunta do casal para comprar enormes quantidades de comida no drive-thru de uma lanchonete. Então, aluga um quarto em um hotel de beira de estrada, tira a roupa e devora tudo na frente da TV. Depois, força o vômito, toma um banho e volta para casa.

O programa, criado pela produtora e roteirista Annie Weisman, de “Desperate Housewives” e “About a Boy”, tem dez episódios de 30 minutos cada um. Um de seus produtores-executivos e diretor de oito capítulos é o também australiano Craig Gillespie, diretor dos longas “Cruella” e “Eu, Tonya”.

Os três primeiros episódios foram ao ar no último dia 18, e a partir de agora um novo estará disponível a cada sexta-feira.

Decisão acertada essa, de disponibilizar os três primeiros de uma vez, já que os dois capítulos iniciais são um mergulho na bulimia e nas atitudes autodestrutivas de Sheila. Ainda que, vale notar, o clima retrô e o humor politicamente incorretíssimo da personagem não deixam o programa descambar para uma tragédia total.

É no terceiro episódio, aliás, que acontece a grande revelação -Sheila assiste a uma aula de aeróbica. Já sabemos, desde a cena inicial, que é de colã brilhante e cavado usado com cinto por cima de meias-calças de lycra que ela vai conquistar o seu lugar ao sol, já que a primeira cena de “Physical” se passa em um camarim, onde ela é tratada como estrela.

O ano é 1986. A câmera a acompanha até um palco, onde ela se coloca na posição central, de costas, enquanto o resto do “elenco”, de frente, espera sua dica para começar a coreografia.

De volta a 1981, encontramos nossa protagonista beirando o fundo do poço, e é o caminho de lá até aquele palco iluminado que a série vai percorrer. Sheila vai roubar, chantagear, mentir e fazer ameaças para chegar ao seu destino. Mas também vai malhar muito, ensaiar, estudar, aprender.

Se isso vai fazer dela uma pessoa melhor, mais feliz ou apenas bem sucedida é a grande questão. Há uma solução fácil, outra divertida.

PHYSICAL
Onde Apple TV+
Autor Annie Weisman
Elenco Rose Byrne
Avaliação Bom

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

About Beto Fortunato
Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

Beto Fortunato

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