Internacionais

Vodu: religião sinistra ou fé mal compreendida?

A verdade por trás de uma das crenças mais pouco ortodoxas do mundo


O Vodu traz na mente de muita gente imagens sinistras e desagradáveis de rituais estranhos que celebram os recém-falecidos e os mortos-vivos. Mas na verdade, o Vodu é uma visão de mundo que abrange filosofia, medicina e justiça. Sua reputação como uma religião macabra é em grande parte injusta. Porém, essa continua sendo uma fé pouco ortodoxa e incompreendida e, na maior parte das vezes, até secreta!

Vodu, termo que refere-se aos vários ramos de uma tradição religiosa baseada nos ancestrais (negros antilhanos de origem animista)[3] que tem as suas raízes primárias entre os povos Jeje-Fom do Benim,[4] atual religião nacional, com mais de 7 milhões de adeptos.

Além da tradição fom, ou do Daomé, que permaneceu na África, existem tradições relacionadas que lançaram raízes no Novo Mundo durante a época do tráfico transatlântico de escravos (século XVI – século XIX) e que persistem até hoje, tais como o candomblé brasileiro, o tambor de mina maranhense, o vodu haitiano, a santería cubana, o vudu da Luisiana (Estados Unidos), etc. “Vodum” pode designar tanto a religião quanto os espíritos centrais nessa religião.

Índice
1 África
2 Brasil
3 Cuba
4 Estados Unidos
5 Haiti
6 Voduns
7 Rituais
7.1 Iniciação
8 Hierarquia
9 Referências
10 Bibliografia
11 Ligações externas

África
O vodum da África Ocidental (Vodun ou Vudun na língua fom do Benin e da Nigéria e na língua jeje do Togo e Gana) é uma religião tradicional da costa da África Ocidental, da Nigéria a Gana. É distinta das religiões animistas tradicionais do interior desses mesmos países, e semelhante a diversas religiões surgidas com a diáspora africana no Novo Mundo, como o vodu haitiano, o vodu da República Dominicana, o candomblé jeje no Brasil, o vodu da Luisiana e a santería em Cuba, que são sincretizadas com o cristianismo e as religiões tradicionais africanas do povo bacongo.

É praticado pelos jejes, cabiés, minas, fons e (com um nome diferente) os povos iorubás do sudeste do Gana, Togo meridional e central, Benin meridional e central, e sudoeste da Nigéria. A palavra vodún (pronunciado vodṹ – ou seja, com um u nasal em um tom alto) é o termo bês (jeje-fom) para a palavra “espírito”.

Área original do vodu e das línguas bês
60% da população do Benim, cerca de 4,5 milhões de pessoas, praticam vodum. Além disso, muitos dos 15% da população beninense que se denominam “cristãos” praticam, na verdade, uma religião sincretizada, semelhante ao vodu haitiano ou ao candomblé brasileiro. Muitos deles são descendentes de escravos libertos brasileiros que se fixaram na costa perto de Uidá. Em Togo, cerca de metade da população indígena pratica religiões, das quais o vodum é, de longe, a mais seguida, com cerca de 2,5 milhões de seguidores. Pode haver outros milhões de vodunces entre os jejes de Gana: 13% da população de 20 milhões são jejes e 38% dos ganenses pratica religiões tradicionais. Cerca de 14 milhões dos nigerianos pratica religiões tradicionais, principalmente o vodum.

Brasil
A tradição e a cultura dos escravos jejes, fons, minas, fantes e axântis deram origem no Brasil às tradições conhecidas como:

Candomblé jeje: teve início em Salvador e no Recôncavo baiano, nas cidades de Cachoeira e São Félix e outras, depois migrou para o Rio de Janeiro, São Paulo em maior número.
Tambor de Mina: teve sua origem em São Luís com a Casa das Minas, de culto mina-jeje e a Casa de Nagô, de culto mina-nagô. Posteriormente foi inserido no estado do Pará.
Xangô do Nordeste, Xangô do Recife, Xangô de Pernambuco ou Nagô-ebá ou Jeje-Nagô: teve início na Região Nordeste do Brasil. Uma parte migrou depois para outros estados.
Batuque (religião), no Rio Grande do Sul, que embora cultue os orixás tem influência jeje, chegando, a partir deste estado brasileiro, até ao Uruguai e à Argentina.
Cuba
A tradição fom mais ou menos “pura” de Cuba é conhecida como La Regla Arará. Ver também: Santería.

Estados Unidos
É importante notar que a palavra vodu é a mais comum, conhecida e usada na cultura popular americana, embora seja vista como ofensiva pelas comunidades praticantes da Diáspora africana. As soletrações diferentes deste termo podem ser explicadas como segue:

A palavra vodu é usada para descrever a tradição creole de New Orleans; vodou é usado para descrever a tradição vodu haitiana.

O vodu da Luisiana, também conhecido como vodu de Nova Orleães, é uma religião da diáspora africana, uma forma de espiritualidade que foi desenvolvida falando-se a língua francesa e o Creole pela população Afro-americana do estado de Luisiana, nos Estados Unidos.

Haiti
O vodu haitiano, chamado de Sèvis Gine (“serviço africano”) no Haiti, tem também fortes elementos dos povos Ibos, congos da África Central e dos Iorubás da Nigéria, embora muitos povos diferentes ou “nações” da África tenham representação na liturgia do Sèvis Gine, assim como os índios tainos, os povos originais da ilha agora conhecida como Hispaniola.

Formas crioulas de vodu existem no Haiti (onde é nativo), na República Dominicana, em partes de Cuba, e nos Estados Unidos, e em outros lugares em que os imigrantes de Haiti dispersaram durante os anos. É similar a outras religiões da diáspora africana, tais como Lukumi ou Regla de Ocha (conhecida também como santería) em Cuba, candomblé e umbanda no Brasil, todas essas religiões que evoluíram entre descendentes de africanos transplantados nas Américas.

Voduns
Mawu é o ser supremo dos povos jejes e fons, que criou a terra e os seres vivos e engendrou os voduns, divindades que a (“Mawu” é do gênero feminino) secundariam no comando do universo. Ela é associada a Lissá, que é masculino, e também corresponsável pela criação, e os voduns são filhos e descendentes de ambos. A divindade dupla Mawu-Lissá é intitulada Dadá Sebô (Grande Pai Espírito Vital).

Os voduns na África são agrupados em “famílias” chefiadas por um vodum principal, ora representando um elemento ou fenômeno da natureza, ora da cultura. Existem, basicamente, 4 famílias principais:

Os Jivodum, ou “voduns do alto”, chefiados por Sô (forma basilar de Quevioço).
Os Aivodum, que são os voduns da terra, chefiados por Sapatá.
Os Tôvodum, que são voduns próprios de uma determinada localidade (variados).
Os Henuvodum, que são voduns cultuados por certos clãs que se consideram seus descendentes (variados).
No Brasil, os voduns são cultuados nos terreiros de candomblé, sobretudo nos da nação jeje, onde ainda se conserva alguma lembrança da divisão por famílias.

Fá – vodum do oráculo, senhor da adivinhação.
Aizã – Senhora guardiã do portal entre os dois mundos (espiritual e material).
Elebá – Elebató, Dono das ruas, dinheiro, mercados e da fala é também muito comum sua presença nas entradas dos templos para a proteção dele.
Gú – Senhor de Húntójí, o ferreiro e agricultor, dono e criador de todas as armas. Caçador e guerreiro.
Atólú – Vodum guerreiro, guardião do palácio do rei de Savalú, Toxwyó da cidade de Savé.
Agé – Agé gbénú, vodum caçador e guardião das matas, Isaýin, Igbò e Agémà seriam de sua família e junto aos Zàngbétó são os donos de toda a folha e a cura através dela.
Loco – Divindade que reside dentro de uma árvore, o primogênito dentre os voduns e junto a agé são responsável no Candomblé brasileiro por observar e manter os preceitos e e segredos do culto ao Vódùn. temos em sua família: Lòkò-hokò, Lòkò Kpásè e Atindánlokò.
Bessém – Divindade serpente, sincretizada em Daomé com Dã
Sapatá – Vódùn da Varíola, possui muitos títulos, tem relação com as doenças, enfermos e a cura. Tem grande enfase no culto do candomblé Její Savalú, seria seus titulos Azònsú, Azònwaní, Ayíonò, Azòn, Jéxòsú e em sua família encontramos: Ohólú, Avímaádjí ou Azòn djí, Azilé, Kpálálá e Yieowá.
Sobô – Vódùn do raio, que junto a sua família está relacionado a muitos fenômenos da natureza como a Chuva, Tempestades, furacões tufões, fogo e etc. e dentro de sua família encontramos muitos outros voduns pertencentes ao panteão de voduns das aguas, então temos: Quevioço, Badé, Càngò, Akloòmblé, Adèèn, Averequete e etc.
Hú – Vodun chefe do panteão dos voduns das aguas, nela temos outro voduns como: Tòkpádún, Tògbòsí, Agbè, Nayiè Watá.
Nánà – Senhora da Vida e da morte, Vodun muito respeitada dentro do candomblé e com grande importância para os Savalú.
Kenesí – Equivalente ao culto das Iamis do iorubá, culto pouco conhecido no Brasil
Kututó – Equivalente ao culto de Babá Egum do iorubá, culto pouco conhecido no brasil e não feito em casas de candomblé.
É muito comum também, perceber a participação dos voduns em outras famílias e saber que existem muitos outros voduns que o culto não chegou até o brasil ou que o culto foi agrupado a outra divindade.

Os voduns da Casa das Minas, templo de tambor de mina do Maranhão, de quem se conhecem os nomes de aproximadamente sessenta, agrupam-se em três famílias principais e duas que são hóspedes da casa, a saber: a família de Davice, também chamada de família real, a que pertence o vodum dono da casa, Toi Zomadônu e outros, que como ele são relacionados com a família real do Daomé, como: Toi Dadarrô, Toi Doçú-Bogueçagajá, Toi Bedigá, Nochê Sepazin, Toi Daco-Donu, Toi Nagono Toçá, Toi Nagono Tocé e Toi Jagoroboçú; a família de Quevioço (dos voduns chamados nagôs), como Toi Badé Neném Quevioço (Xangô), Nochê Sobô Babadi (Iansã), Toi Loco (Irocô), Toi Lissá (Oxalá), Toi Averequete, Nochê Abê (Iemanjá) e outros; a família de Dambirá (que cura a peste e outras doenças), chefiada por Toi Acóssi Sapatá Odã e que incluí entre outros Toi Azíle, Toi Agonçozonce Dambirá, Toi Polibojí, Toi Lepon, Toi Alôgüé, Nochê Ieuá, Nochê Bôçalabê e Toi Boçucó.[5]

Existem ainda os voduns Toi Ajaúto de Aladánu e Toi Avrejó que formam a família de Aladanu, hóspede de Quevioçô, e os voduns agrupados na família de Savaluno, hóspede de Davice, como Toi Agongono e Toi Jotin. Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem cânticos, comportamentos e atividades próprias. O título de Toi significa que o vodum é masculino e o título de Nochê significa que o vodum é feminino.[5]

Rituais
Voduns não usam roupas luxuosas, não gostam de roupas de festa e, geralmente, preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os voduns estão sempre de olhos abertos e, salvo algumas exceções, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura.

Iniciação
A iniciação ao culto dos voduns é complexa principalmente no começo da sistematização e organização do candomblé que a tornava muito longa e bem duradoura com fundamentos internos e externos e muitos ritos que enriqueciam mais ainda o povo její e o diferenciava de outras culturas como o processo do Glá, Dengwe, Mixaô, aprendizagem do Húngbè, Núbyatô e etc.

Hierarquia
Gàniyákú – “A senhora da saia longa” ou a mais velha entre os jejís, por isso geralmente esse titulo e ocupado pela representante da casa matriz de cada vertente Její seja ela Maxí ou Savalú.
Húngbónò – Hùngbónà – aquele ou aquela que possui os conhecimentos sobre o culto ao vódùn, titulo dado ao sacerdote assim que toma a frente de uma casa.
Dònné – Dònté e o primeiro titulo ao qual o recém sacerdote passa a ser chamado.
Méjító – é um titulo oriundo do Kpó-Dáágbá (casa de grande referência její do Rio de Janeiro), titulo sacerdotal assumido por mulheres.
Vódùnnò – Vódúnnà – titulo daquele ou aquela que é o zelador do templo de um determinado Vódùn.
Méhùntó – Méhùnnà – auxiliares maiores do Zelador, no Maxí encontramos: Méhuntó e Deré/ Mehuntó e Hunsô, postos similares à Babá Kekerê e Iya Kekerê.
Ogà e Anágàn – Homem e mulher que não é tomado pelo vodun e que pode receber diversos postos como Kpènjígán, Húntó, Ekedjí, Hùnsó, Dúgàn e etc.
Hùnsémà ou Sénmàtó – posto dado para aquele que irar cuidar do plantio e coisas voltadas para as folhas, arvores e etc.
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Vodum

Referências
«vudu». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Priberam Informática
«voodoo – Dicionário Inglês-Português (Brasil) WordReference.com». www.wordreference.com. Consultado em 14 de setembro de 2021
«Vodu». Dicio. Consultado em 14 de setembro de 2021
Aloisio Milani, Revolução Negra, Revista História Viva nº 51, Jan/2008
«Reginaldo Prandi > Nas pegadas do Voduns : um terreiro de tambor-de-mina em São Paulo > Artigos, teses e publicações … Espiritualidade e Sociedade …:::». www.espiritualidades.com.br. Consultado em 2 de dezembro de 2018

Bibliografia
Ajayi, J.F. and Espie, I. “Thousand Years of West African History” (Ibadan: Ibadan University Press, 1967).
O Livro dos Deuses Voduns, Vodun no Brasil-
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Decalo, Samuel. “Historical Dictionary of Dahomey” (Metuchen, N.J: The Scarecrow Press, 1976).
Deren, Maya. “Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti.” (London: Thames and Hudson, 1953).
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Slave Society on the Southern Plantation. The Journal of Negro History. Vol. VII-January, 1922-No.1.
Ligações externas
Open Directory Project Vodou, Vodun, Voodoo category (em inglês)
The Vodun Phenomenon in Benin (em inglês)
The Cult of Vodon (em inglês)
Voduns in America (em inglês)
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Mitologia africana
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Vodum
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Categoria: Vodum

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