São Paulo engaveta projeto de ‘Nobel da arquitetura’ no Ibirapuera
Mendes da Rocha foi contratado em 2015 pela gestão Haddad para dar uma “nova cara” ao parque
24FEV2018| 7:54 - Folhapress/Arquiterura - Foto: © Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB) têm algo em comum além do cargo de prefeito de São Paulo: ambos desprezaram um projeto para o parque Ibirapuera elaborado por Paulo Mendes da Rocha, o mais premiado arquiteto brasileiro vivo.
O contrato de R$ 680 mil foi assinado em 18 de dezembro de 2015. No mês de janeiro seguinte, R$ 102 mil foram pagos ao arquiteto, que tem no currículo, entre outros trabalhos, o Museu Brasileiro da Escultura, o Sesc 24 de maio, o ginásio do clube Paulistano e a reforma da Pinacoteca.
O anteprojeto foi apresentado em 29 de março. No mês seguinte, ou seja, apenas 120 dias depois da contratação, ainda na gestão do petista, tudo começou a mudar. Ao alegar falta de recursos, a prefeitura suspendeu o contrato e engavetou o estudo elaborado por Mendes da Rocha. Um ofício com menos de 60 palavras foi enviado a ele.
“Comunicamos pelo pressente que, em face de dificuldades de empenho dos recursos destinados aos pagamentos relativos ao contrato nº 19/SMC-G/2015, a partir desta data ficam suspensos os serviços de projeto objeto do referido contrato”, dizia o documento de 16 de abril.
O texto não garantia a continuidade do projeto: “Informamos que, no caso da retomada dos trabalhos, os prazos para a realização dos produtos ainda pendentes serão estabelecidos por termo aditivo de contrato”.
Em dezembro passado, a gestão Doria, que pretende conceder o parque para a iniciativa privada, colocou uma pá de cal no assunto, decidindo rescindir o contrato com o arquiteto em razão também da “falta de recursos”.
“Essa situação revela uma vergonhosa falta de planejamento e um desrespeito ao trabalho intelectual”, afirma Lúcio Gomes Machado, professor aposentado de História da Arquitetura da USP e diretor do escritório GMMA. “Agiram como se estivessem comprando batatas”, diz.
Neste mês, a Folha teve acesso ao estudo “perdido” de Mendes da Rocha, que hoje se encontra num arquivo da Secretaria de Cultura. O arquiteto previa resgatar a ideia original de Oscar Niemeyer, transformando numa praça o estacionamento que hoje existe entre a Oca, o Auditório Ibirapuera e a extremidade norte da marquise.
Feita com piso permeável, a praça passaria a funcionar, de fato, como a entrada principal do parque. O acesso pelos portões 1 e 2 seriam reformulados, destinando-se exclusivamente aos pedestres. A entrada passaria a ter a sua extensão delimitada por duas pequenas marquises idênticas, hoje subutilizadas e descontextualizadas pelas mudanças que ocorreram ao longo dos anos.
A nova praça e a reformulação da entrada, bem como a readequação do sistema viário que deriva da avenida Pedro Álvares Cabral, permitiria uma maior integração entre o parque e a área verde do Obelisco, segundo o memorial descritivo do projeto. O documento preparado por Mendes da Rocha também faz recomendações para o pavilhão de exposições, a Oca, tanto do ponto de vista arquitetônico como de suas instalações técnicas.
O arquiteto propôs, por exemplo, a remoção “de elementos estranhos à sua linguagem arquitetônica”, que foram adicionados desde a última grande reforma, efetuada no ano de 1999. Cita entre esses elementos paredes de drywall que delimitam um espaço justaposto ao auditório “atrapalhando a legibilidade do salão de exposições do subsolo”.
Sugeriu ainda a construção de um túnel de comunicação do subsolo com a área externa, “sem ofender a arquitetura do edifício”, a fim de possibilitar aos usuários da Oca uma segunda rota de fuga. Procurado para comentar a suspensão e a posterior rescisão do contrato, o arquiteto não concedeu entrevista. Com informações da Folhapress.
Beto Fortunato
Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista -
MTB: 44493-SP