Inchaço, feridas e dentes tortos podem indicar tumor na boca de crianças
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Segundo Camila de Barros Gallo, professora doutora da disciplina de Estomatologia Clínica da Fousp (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo), normalmente os casos de tumores em crianças e adolescentes são benignos, mas mesmo assim precisam ser tratados com urgência.
Em novembro do ano passado, Kauã Costa da Silva, 16, voltou ao dentista 15 dias após arrancar um dente para retirar os pontos. A partir daquele momento, ele percebeu que o local começou a inchar e ficar dolorido.
Nem ele nem os pais ainda sabiam, mas ali começava um transtorno que alteraria para sempre seu futuro. A extração do dente fez emergir um tumor desmoide, que, em poucos meses, tomou toda a parte óssea de sua arcada dentária até chegar à base do crânio. A boa notícia, descoberta depois, é que era benigno.
O caso de Kauã mostra a importância de se cuidar da saúde bucal de crianças e adolescentes. Qualquer alteração pode ser sinal de problema maior que apenas cáries. E os pais precisam ficar atentos.
Segundo Camila de Barros Gallo, professora doutora da disciplina de Estomatologia Clínica da Fousp (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo), normalmente os casos de tumores em crianças e adolescentes são benignos, mas mesmo assim precisam ser tratados com urgência.
“Os tumores malignos geralmente acontecem por acúmulo de erros, o DNA vai acumulando erros, e isso acontece nos idosos. Na criança não é esperado, a não ser que seja genético”, diz.
A professora alerta que a escovação da criança deve ser acompanhada por um adulto até pelo menos os seis ou sete anos, idade em que ela vai adquirir a capacidade motora para fazer a higienização sozinha. “Até essa fase, o adulto vai perceber se houver mudanças de posicionamento dos dentes ou o aumento de volume na região.”
São três os sinais a que os pais precisam ficar atentos nas bocas dos pequenos. O primeiro é o aparecimento de inchaços no rosto, como o de Kauã. Depois, o surgimento de feridas nas gengivas que não cicatrizam em até 15 dias. E, por último, se os dentes começarem a entortar ou criar espaços que não existiam antes entre eles.
O cirurgião de cabeça e pescoço Marcos Roberto Tavares, que fez todo o acompanhamento de Kauã no Hospital das Clínicas, diz que o adolescente também apresentava a dentição torta, além do inchaço, motivos para ligar o alerta vermelho e procurar ajuda profissional.
Como muitas vezes ocorre em casos de saúde, o atraso no diagnóstico acaba piorando a situação do paciente. Foi o que aconteceu com Kauã. Depois da extração do dente e o aumento do inchaço, ele voltou ao dentista que, mesmo com o raio-X em mãos, disse que era situação normal.
Apenas depois de receber uma indicação, sua mãe, Edilaine da Silva Costa, o levou a um dentista especialista em cirurgia bucomaxilar no Hospital do Mandaqui, na zona norte da capital. De lá, foi encaminhado para o Hospital Santa Marcelina, na zona leste, onde foi diagnosticado pela primeira vez o tumor desmoide benigno.
“O hospital disse que não poderia realizar a cirurgia e que o procedimento seria no Hospital Municipal do Tatuapé, especializado em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial. O problema é que a operação foi marcada apenas para o fim deste mês de julho”, conta a mãe.
Com o rosto do filho cada vez mais inchado, a mãe não quis esperar e o levou ao Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, onde começou a fazer o acompanhamento até marcar a cirurgia para o dia 21 de junho, procedimento que foi adiado para três dias depois por falta de anestesista. O hospital informou que o profissional precisou ser deslocado para uma operação de emergência.
Por fim, Kauã foi operado por três equipes diferentes por cerca de 16 horas. A equipe de cirurgia de cabeça e pescoço tirou o tumor da mandíbula, a de neurocirurgia tirou da base do crânio e o grupo de cirurgia plástica fez a reconstrução dos ossos da face.
“Às vezes, o tumor começa na face e vai para o cérebro, na base do crânio. Então, nós tiramos o tumor de baixo para cima e os neurocirurgiões tiram de cima para baixo. E depois a plástica faz a reconstrução. Antigamente a gente não podia fazer esse tipo de cirurgia porque não tinha a reconstrução, mas hoje em dia a plástica faz. Eles tiram parte de um osso da perna, a fíbula, e fazem as curvas todas para encaixar na mandíbula. É uma cirurgia complexa”, conta o médico Marcos Roberto Tavares.
Mesmo sem a necessidade de passar por tratamento de quimioterapia, que só é realizado em tumores malignos, a recuperação de Kauã deve ser prolongada e vai demandar muitos cuidados. Ele deixou a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na quinta-feira (7) e está em recuperação no quarto. Por isso, para não chegar a essa gravidade, o ideal é que o diagnóstico seja feito o quanto antes.
“O que me deixou mais assustada foi quando descobri o tumor. Não sabia que podia acontecer isso por causa de um dente. Fiquei muito frustrada quando me falaram no Santa Marcelina que ele estava com um tumor na mandíbula, que ia perder a mandíbula e não ia poder mastigar, se não tivesse como fazer a prótese”, diz Edilaine.
“Como demorou muito para fazer a cirurgia, o tumor chegou até a base do crânio. Ele podia perder a visão e os movimentos do rosto, não só na mandíbula. Isso me assustou muito.”
“Tudo o que for simples, irrelevante, vai acabar em duas semanas. Se for mais complexo é bom procurar um profissional, mesmo que seja um tumor benigno”, alerta a professora Camila de Barros Gallo.
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