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Centrão ajudou na derrota do governo Bolsonaro no voto impresso

Centrão ajudou na derrota do governo Bolsonaro no voto impresso

Seis partidos mais identificados como componentes do bloco deram 69 votos a favor do texto, mas deixaram de dar outros 73 apoios à matéria


Aliado de Jair Bolsonaro, o Centrão não aderiu por completo à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso na Câmara dos Deputados e ajudou a impor, na terça, 10, a maior derrota política do presidente desde o início do mandato, em 2019.

Seis partidos mais identificados como componentes do bloco deram 69 votos a favor do texto, mas deixaram de dar outros 73 apoios à matéria. A conta leva em consideração 46 votos contrários à PEC dados por deputados de Progressistas, PL, PTB, Republicanos, Avante e PROS e 27 ausências.

Para que o texto fosse aprovado, o governo precisava do apoio de, no mínimo, 308 deputados, mas só obteve 229 votos favoráveis. O placar registrou, ainda, 218 votos contrários à proposta e uma abstenção.

O comportamento do Progressistas foi emblemático na votação. Controlado pelo novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, o partido ainda tem entre seus filiados o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que chegou ao cargo com apoio do Palácio do Planalto, e o deputado Ricardo Barros (PR), líder do governo na Casa.

O líder do Progressistas na Câmara, Cacá Leão (BA), liberou a bancada para votar como quisesse. Ao todo, 16 deputados foram a favor da proposta, 13 contrários e outros 11 não votaram. Entre os ausentes estão conhecidos aliados de Bolsonaro, como Aguinaldo Ribeiro (PB) e André Fufuca (MA).

Fufuca, que assumiu o comando do Progressistas interinamente, depois que Nogueira foi nomeado para a Casa Civil, disse que o voto impresso não pode ser considerado uma pauta do governo. “A gente procurou escutar a bancada e a bancada estava dividida. Pode até ver que houve essa divisão, um equilíbrio muito grande entre o ‘sim’ e o ‘não’. Por isso a gente resolveu liberar”, afirmou.

No PL – que detém o comando da Secretaria de Governo, com a deputada licenciada Flávia Arruda -, 23 deputados foram contrários à PEC do voto impresso, 11 favoráveis e sete ausências. O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, afirmou que o PL, mesmo tendo orientado contra o texto defendido pelo governo, não vai punir nenhum parlamentar. “Bola para frente, vira a página, tem coisa mais importante para discutir do que essa besteira”, afirmou Ramos.

No PTB, quatro deputados não acompanharam o governo, com dois contrários à proposta e dois ausentes. Outros seis foram favoráveis. No Republicanos, 26 votaram pela aprovação da PEC e três pela rejeição. O líder do partido na Câmara, Hugo Motta (PB), foi um dos três que não votaram anteontem.

No Avante, quatro disseram não ao voto impresso, dois não votaram e dois foram favoráveis. Na bancada do PROS, oito apoiaram a PEC. Somente Gastão Vieira (MA) votou contra, mas outros dois não registraram voto. No total, foram menos três apoios ao projeto defendido por Bolsonaro.

O PSDB fechou questão contra a PEC, mas houve 14 votos favoráveis à proposta de um total de 32 deputados da bancada. Doze tucanos foram contrários ao voto impresso. O deputado Aécio Neves (MG) se absteve. O partido afirmou que pretende punir os dissidentes (mais informações nesta página).

Lira trabalhou pessoalmente para que a proposta fosse sepultada. Ele dizia a pessoas próximas que era necessário tirar esse assunto de cena para que temas importantes pudessem ser apreciados. “A democracia do plenário desta Casa deu uma resposta a esse assunto e, na Câmara, espero que esse assunto esteja definitivamente enterrado”, afirmou o presidente da Câmara, ao fim da votação.

‘Desconfiança’

Um dia após sofrer a derrota na Câmara, Bolsonaro voltou a colocar em xeque a segurança das eleições de 2022. “Hoje em dia sinalizamos para uma eleição, não que está dividida, mas que não vai se confiar nos resultados da apuração”, disse o presidente a apoiadores, ontem, na saída do Palácio da Alvorada.

“Metade do parlamento que votou sim ontem (anteontem) quer eleições limpas. A outra metade, não é que não queira, ficou preocupada em ser retaliada”, afirmou Bolsonaro. Para o presidente, apesar da derrota, o placar na Câmara “deu um grande recado ao Brasil” em apoio à implementação do voto impresso no futuro, já que, segundo ele, “metade do Legislativo, não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE”.

PSDB vai retaliar quem apoiou proposta

O PSDB encontrou uma solução para retaliar os 14 deputados da bancada que descumpriram a orientação partidária e votaram a favor da PEC do voto impresso, anteontem, sem puni-los internamente. O partido dará um “bônus” do fundo eleitoral aos 17 parlamentares que seguiram a decisão da Executiva.

A direção da legenda decidiu fechar questão contra a proposta da deputada Bia Kicis (PSL-DF), e defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Com isso, os deputados que descumprissem a orientação poderiam ser até expulsos do partido por “justa causa” – e o PSDB continuaria sendo o “dono” do mandato.

“Se a Executiva não tomar providências, o partido vai ser desmoralizado. Esses deputados descumpriram uma cláusula estatutária. O PSDB deve expulsá-los imediatamente e pedir o mandato”, disse o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo.

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Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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