Policia

Suspeito de garimpo em área yanomami usou licença suspensa para buscar soltura

Celso Rodrigo de Mello, filho do empresário bolsonarista Rodrigo Martins de Mello, foi preso pela Polícia Federal em 5 de novembro, em cumprimento a uma decisão da Justiça Federal em Roraima. Os dois são suspeitos de integrar um grupo que explora garimpos na terra yanomami.


O grupo apontado como organização criminosa na exploração de minérios na Terra Indígena Yanomami usou licença suspensa em 21 de outubro como argumento na Justiça a favor da liberdade de um dos investigados.

Celso Rodrigo de Mello, filho do empresário bolsonarista Rodrigo Martins de Mello, foi preso pela Polícia Federal em 5 de novembro, em cumprimento a uma decisão da Justiça Federal em Roraima. Os dois são suspeitos de integrar um grupo que explora garimpos na terra yanomami.

Após a prisão, a defesa de Celso apresentou à Justiça um pedido de liberdade provisória, para revogação da prisão, com argumento de que as atividades desenvolvidas são lícitas, como consta em manifestação do MPF (Ministério Público Federal).

Segundo a Procuradoria, foram anexados à petição documentos como a cópia da licença de operação número 14/19, com data de 28 de maio de 2020, expedida pela Femarh (Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos). O órgão ambiental do governo de Roraima é responsável por licenças de operação a atividades como lavra garimpeira.

Quando o pedido de liberdade foi feito, a licença já havia sido suspensa havia pelo menos 15 dias. A suspensão ocorreu em 21 de outubro, e a portaria foi publicada no Diário Oficial de Roraima no dia 26 do mesmo mês, conforme informação da Femarh.

O presidente do órgão, Glicério Fernandes, confirmou à Folha que se trata de uma única licença a Rodrigo Mello, de um único processo de licenciamento, na mesma posição geográfica para exploração de minérios -cassiterita, ouro e diamante.

Segundo o portal G1, Celso foi solto pela Justiça Federal, em decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região. A soltura se deu entre os dias 23 e 24 de novembro.

Em nota, a defesa de Rodrigo e Celso afirmou que os motivos que fundamentaram o pedido de prisão preventiva dizem respeito a “fatos diversos do questionado e anteriores a outubro de 2022”.

“É juridicamente indiferente o fato de a licença ter supostamente sido suspensa no mês de outubro deste ano, por uma suposta irregularidade sanável, que nem mesmo configura crime”, afirmou a advogada Ana Paula de Souza Cruz.

Segundo a Femarh, imagens de satélite mostraram desmatamento em desacordo com a licença concedida. Houve multa, embargo do empreendimento e suspensão da autorização.

A suspeita da PF e do MPF é que a licença tenha sido usada como pretexto para exploração de garimpos de ouro e cassiterita na terra indígena. A autorização permitia exploração apenas num polígono na área rural de Amajari, a 155 km da capital Boa Vista.

As investigações apontam irregularidades e “inconsistências graves” na licença. A autorização foi transferida para o nome de Mello, mais conhecido como Rodrigo Cataratas, em julho deste ano.

Cataratas foi candidato a deputado federal pelo PL, o partido do presidente Jair Bolsonaro. Os dois foram derrotados nas urnas.
O presidente da Femarh disse que uma averiguação no local pode levar à revogação definitiva da licença se ficar constatado que a área não é utilizada. Eventuais inconsistências devem ser apuradas pela PF, conforme Fernandes.

Segundo denúncia do MPF, o grupo atuou com exploração de ouro e cassiterita da terra indígena pelo menos entre janeiro de 2018 e agosto de 2021.

A autorização existente diz respeito a extração de diamante, ouro e cassiterita em Amajari. A ANM (Agência Nacional de Mineração) aprovou apenas em agosto deste ano a inclusão de cassiterita na permissão de lavra garimpeira, conforme o MPF.

Segundo análise feita pela PF, a licença está na terceira alteração, sendo a última em julho, para inclusão da possibilidade de exploração de cassiterita.

Os policiais apontaram inconsistências na data disposta antes das assinaturas do documento. A data -28 de maio de 2020- seria incompatível com outras referências temporais presentes na licença.
No polígono para lavra, “não foram visualizados sinais de intervenção humana entre janeiro de 2020 e janeiro de 2022 que indicassem a extração de minério”, conforme análise da polícia.

Já registros de GPS de helicóptero do grupo, planilhas ocultas, vídeos e mensagens telefônicas mostram inúmeros voos ao território yanomami, segundo as investigações.

Mello foi denunciado pela Procuradoria por suspeita de ser o líder de uma organização criminosa que explora o garimpo ilegal na área yanomami.

A acusação inclui Mello, o filho Celso, uma irmã do empresário, outras duas pessoas e uma empresa do grupo.
A defesa do empresário e familiares disse que os clientes não foram citados pela Justiça e que não teve acesso ao teor da denúncia.

“Segue em curso uma perseguição institucional a Rodrigo e seus familiares, por conta daquilo que insistem em fazer vistas grossas, ou seja, das descobertas graves que promovem questionamentos à idoneidade das investigações, aos atos de alguns servidores públicos e da autoridade que conduziu a investigação”, afirmou a advogada Ana Paula Cruz.

A defesa de Mello disse que o empresário já provou que o empresário não extrai minério da Terra Indígena Yanomami e tem licenças minerárias em Roraima, Rondônia e Pará.

“A cassiterita objeto de comercialização de sua atividade foi produto mineral extraído em Rondônia, conforme notas fiscais já anexadas ao TRF da 1ª Região”, afirmou.

|IDNews® | Folhapress | Via NBR | Brasil

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Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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